"Querida Mel,
já há muito que não te vejo. Sinto a tua falta e a do teu profundo cheiro a alfazema. Não sei onde estás, como estás ou se sentes quaisquer saudades minhas. Deves ter mudado por completo (desde a tua cor de olhos ao teu gosto musical).
Eu... continuo a mesma pessoa!
A mesma pessoa sozinha e melancólica por quem te apaixonaste. Aquela pessoa que sempre cantou nas ruas, lembraste? Tu sorrias envergonhadamente enquanto eu tocava na calçada do Rossio. Fizeste como os outros... tiraste uma fotografia... e esse hábito veio a repetir-se muito mais tarde...quando passamos a andar de mãos dadas pela estrada. Quando corriamos nos campos de papoilas sem fim, sem medo do amanhã.
Riamos e cantávamos alegremente como se o mundo fosse acabar. Mesmo que o som rouco da minha voz ficasse rouco.
Estavas sempre disposta a fugir do drama da cidade. Viajamos para zonas de um Portugal mais distante. Relembro-me das tardes de Verão, onde parávamos e víamos o pôr-do-sol enquanto me mexias no cabelo, e sentíamos a relva fria na nudez dos nossos pés.
Se nem a mais pequena das nostalgias te fizer lembrar disto, tens sempre a hipótese de ver as tuas imagens. A hipótese de rever as memórias, aquelas que tu apanhavas.
Daquelas que eu nunca esqueci e das quais eu não preciso de nenhuma ilustração. Sei as de cor.
Numa desesperada esperança de te puder sentir novamente.
Foste embora e não disseste adeus...e eu fiquei aqui. Mesmo que eu dantes te levasse a fugir isso não te interessou. Deixaste-me aqui na pobreza.
Apenas me deixaste aqui...
Fernando."
Tudo fícticio.